Jordânia // Mar Morto I
Outubro 15, 2024
← anterior
saímos de madaba directos ao mar morto, seguindo pelo percurso mais curto, que atravessava uma zona montanhosa e providenciou umas curvinhas deliciosas.
agora, o cenário arrancou-me sentimentos mistos. se por um lado parecia-me incrivelmente desolador — árido, a vegetação era escassa, rasteira e ressequida (não foi esta estrada, mas dá para ter uma ideia da paisagem); por outro era impressionante, tão diferente daquilo que alguma vez tinha visto na vida. há ali uma zona em espanha que tem algumas semelhanças, mas não aquele nível cruel de nudez e desgaste da superfície terrestre.
entretanto, eis que o grandioso lago começa a surgir no horizonte. um espelho resplandecente, cujo azul se confundia com o do céu. omg, omg, omg!!
assim que deixei a estrada das montanhas estéreis e entrei na autoestrada do vale jordão, vi um par de camelos à beira da estrada e "OMG, CAMELOS, CAMELOS!!" tive um pequeno desequilíbrio mental. mais à frente, o nosso primeiro controlo policial. o sôr agente olhou para mim, cumprimentou-me e mandou-me seguir. aquilo de controlo teve pouco, suponho que quando topam que é turista, mandam logo seguir.
fun fact, o percurso iniciou-se num planalto a 800m de altitude, e terminou a -400m de altitude. e não, infelizmente não acontece nada de transcendental quando passamos para altitude negativa, nem sequer pressão nos ouvidos. bah...
naquela zona só existem resorts, cenas mesmo à grande, e cada um mais luxuoso que o outro. por estarmos quase em cima da data quando fizemos a reserva, já restavam poucas opções. e do que havia, ou era caríssimo, ou o homem não gostava do aspecto dos quartos lol
o hilton era dos que tinha pior pontuação no booking [por acaso agora está mais alta], mas não era o mais caro, e era o que tinha os quartos com melhor aspecto, assim como a praia. decidimos arriscar e reservamos um quartito com vista para o mar (vista para o mar era não-negociável para mim, eu não ia pro mar morto para ficar voltada para as traseiras, né? ainda que fosse só para dormir, não interessa!!)
anyway.. chegamos lá, uma cena massiva, com controlo tipo aeroporto à entrada. malas têm que passar pelo raio-x e pessoas têm que passar pelo portal detector de metais. água não entra (não me perguntem porquê, que eu não sei). o hotel tinha uma vista francamente obscena sobre o lago.
o recepcionista do check in engraçou connosco, “ah são portugueses? RONALDO, SIIIIM!! tão vou-vos fazer um upgrade para uma suite muito fixe, acho que vão gostar!”
quando entramos no quarto, ou melhor, à suite, íamos tendo um fanico. PQP eu já tive em quartos de hotel luxuosos, mas aquilo era outro nível. maior que o nosso humilde T1, e com uma vista de cortar a respiração. valeu todos os cêntimos e mais alguns! abençoado ronaldo 🙏
mas por muito confortável aquela cama enorme fosse, e por mais cansada e privada de sono que eu estivesse, lá em baixo, a água salgada chamava por mim como o canto de uma sereia atrai os marinheiros incautos...
enfiei-me no fato de banho e desci os 3 elevadores que davam acesso à praia praticamente a correr.
tava um calor do cacete, mesmo bom para um banhinho refrescante no mar... ou então não, porque a água estava QUENTE!!
epá... não há palavras para explicar o quanto gostei daquela água (apesar da sua textura estranhamente oleosa, e das borbulhas que eu tinha estado a coçar arderem muhahaha). pena que as recomendações fossem para não estar lá dentro mais do que 15 minutos, se não tinha passado lá a tarde, a noite, e a manhã seguinte lá dentro.
a cena de não conseguirmos ir ao fundo mesmo que tentemos forçar é SUPER estranha. não dá mesmo!! e nadar também é incrivelmente difícil. das vezes que tentei, só fui bem sucedida em fuçar com a cara na água. uma pessoa quem que se contentar em ficar ali a rebolar-se que nem uma lontra. e ter cuidado para não esfregar os olhos. NÃO ESFREGAR OS OLHOS. vai arder durante meia hora lol
a segunda coisa mais concorrida a seguir à mangueira de água [doce] que a malta usava para se lavar depois de sair da água [salgada] (LOL) era a pia de lama. uma pessoa ir ao mar morto e não se besuntar em lama é tipo ir a roma e não ver o papa. num dos momentos em que ninguém lá estava, aproximei-me, espetei lá o dedo e saquei um bocado para inspeccionar. uma cena densa, ligeiramente mais líquida que barro e menos líquida que lama. as cores andavam ali entre tons de verde escuro e verde muito escuro. e tinha um cheiro tão manhoso como a textura e a cor. assim de repente, não achei interessante a ideia de me besuntar naquela gosma.
um dos maiores contrastes nesta praia foi uma mulher praticamente nua num micro bikini, e outra mulher tapada da cabeça aos pés num burkini, mas ninguém parecia incomodado com aquelas liberdades. suponho que estejam mais do que habituados. eu também tive um nip slip depois de me ter lavado debaixo da mangueira e ninguém me disse nada, andei com uma mama quase de fora sem dar por isso. não admira aquele cota chinês que se cruzou comigo me dar um sorriso maroto 😒
uma das características mais famosas do mar morto, para além da água ser quase 10x mais salgada que a do oceano, a sua superfície está a 430 metros abaixo do nível do mar, o que faz deste o lugar com a elevação terrestre mais baixa da terra — se senti alguma coisa de diferente por estar quase meio km do nível no mar? não. era como se tivesse noutro lugar qualquer... muito anti-climático, na minha opinião.
durante o jantar no restaurante libanês do hotel (os chineses invadiram o buffet e nós estávamos a morrer de fome para esperar mais meia hora) aprendemos as primeiras palavras em árabe. A nossa hostess era super simpática e não se importou em responder à nossa enxurrada de perguntas, e ainda nos deu umas dicas fixes sobre o que devíamos experimentar comer e em que tipo de restaurantes.
no dia seguinte, acordamos cedo porque nenhum minuto no paraíso salgado será desperdiçado! vai daí, depois do pequeno almoço arrumamos a tralha, deixamos a bagagem na recepção, e fomos prá praia.
depois de muito olhar para a pia de lama finalmente ganhei coragem e fui-me besuntar de cima a baixo. tipo, tenho a certeza que me ia arrepender se não o fizesse — e eu não gosto de me arrepender do que não faço. O homem não teve coragem, wuss!
depois e empastada, a lama tinha que secar para fazer a sua magia. mas tava a sentir-me tão javarda que não consegui esperar que aquilo secasse totalmente. acho que aguentei 10 minutos e depois fui devolver a lama à sua procedência...
QUEEEE NOOOOOIJO 🤢
fiquei sem perceber porque é que raio o hilton tinha tão má pontuação no booking. foi uma das melhores experiências em alojamento que já tive. suponho que seja por não ser tão exigente como a maioria da tropa que frequenta hotéis de luxo 🤷♀️
continua...