Acho que esta posta é inevitável, toda a gente fala sobre assunto, toda a gente dá a sua opinião..
Optei por não dar a minha, mas reuni uns quantos factos que acho que falam por si:
- A IVG é, e há-de ser sempre uma realidade. Acontece aos milhares todos os anos, é um facto. Não é o NÃO ganhar que vai mudar isso, aliás, só vai fazer com que tudo fique exactamente na mesma. A atitude típica de ignorar que existe um problema, só para não ter que enfrenta-lo, é errada e não nos leva a lado nenhum..
- Se o NÃO ganhar, o aborto clandestino vai continuar; milhares de mulheres vão continuar a encher os bolsos a clinicas, muitas delas ilegais e sem condições nenhumas; algumas mulheres vão correr o risco de morrer, algumas vão ser apanhadas e vão ser humilhas em tribunal, apenas porque sentiram que não reuniam condições para trazer uma criança ao mundo.
- O facto do SIM ganhar não vai fazer com que as mulheres desatem todas a interromper a gravidez, como se de uma moda se tratasse.
Não é uma decisão que se toma de animo leve, e deixa marcas profundas para sempre na mulher, muitas nunca o superam. Ao terem o acompanhamento médico e psicológico, muitas mulheres acabarão por desistir de abortar. Actualmente, e da forma como as coisas se passam, se uma mulher engravida, e num acto de desespero decide não ficar com a criança. Arranja conctactos, arranja o dinheiro e vai a uma clinica pela calada. Ninguém faz perguntas, ninguém quer saber - money talks, bulshit walks!
E se existem mulheres que vêm no aborto um método contraceptivo, então deixem-me que vos diga que chamar-lhes estúpidas e inconscientes é pouco, porque não fazem a mínima ideia dos riscos que correm cada vez que passam por um aborto.
- E se o SIM ganhar, e os números reais se revelarem assustadores, pode ser que aí o governo se veja obrigado a tomar providências, e tratar de arranjar incentivos para os casais que se vêm a braços com a possibilidade de ter um filho não planeado, não desistam à partida. Licenças de maternidade mais longas, abonos ajustados à realidade das necessidades das crianças, serviços de saúde e educação mais acessíveis, compra/arrendamento de casa facilitado, etc, etc, são algumas medidas que poderiam vir a reduzir substancialmente o numero de abortos praticados por ano..
Mais... Sobre aqueles que falam que métodos contraceptivos são suficientes para evitar uma gravidez não desejada, aqui fica um dos muitos cenários, que acontecem com mais frequência do que se imagina: Um jovem casal de namorados, estudantes, com a vida toda pela frente, sendo a sua maior preocupação, os estudos, e porque não, as coisas boas e divertidas da vida. A rapariga, consciente que pode engravidar se tiver relações sexuais desprotegidas, escolheu a pílula como método contraceptivo, e segue à risca o horário das tomas, não falha uma. So far, so good..
Uma destes dias, a rapariga come qualquer coisa ao almoço que lhe cai mal e vomita ou fica com diarreia. Por azar, a pílula desse dia não teve tempo de ser absorvida pelo organismo e perdeu a eficácia, embora ela a continue a tomar as restantes a tempos e horas. Dois dias depois, saí à noite com o namorado, e acabam na cama, e ela não se lembra (ou não reparou) do sucedido de há dois dias atrás. Passado duas ou três semanas ela descobre que está grávida..
E agora? Deve a rapariga ser obrigada a ter a criança que não desejou (caso contrario, não estaria a tomar a pílula) e a dar cabo do seu futuro, porque vai ser mãe e as implicações de ter um filho são enormes e vai ter que abdicar de muita coisa? E o namorado? Estaria pronto a aceitar a responsabilidade de ser pai? Deixar a escola e arranjar um trabalho para sustentar a nova família? E se isto (ou algo parecido) vos acontecesse?
Não vale dizer que "a mim não, porque assim, e porque assado..", porque o destino às vezes consegue ser fdd.. E se optassem por não ter a criança? Seria isso preferível num cenário do SIM ou do NÃO?
E já agora... Há uma coisa que sempre me fez uma certa confusão, e também tem um pouco a ver com o assunto: porque é que existe tanta gente culpar as escolas, por estas não darem, ou darem de modo deficiente, aulas sobre educação sexual aos putos, quando esse tipo de educação deveria ser recebida em casa em primeiro lugar? Leva-me a querer que, quem tem medo do "bicho papão" são os pais, e não as criancinhas!
É conveniente, não é? Passar a batata quente aos professores, como se de uma obrigação se tratasse..
Quer queiram quer não, a educação sexual das crianças e adolescentes, para que tenham conhecimento de como funciona a vida, e não tenham que andar a fazer abortos aos 14 ou aos 16, deve ser da inteira responsabilidade dos pais, que foi quem os meteram cá. Cabe aos pais falarem abertamente, e explicarem aos filhos, o que acontece quando não tomam cuidado a fazer certas coisas, para evitar que se vejam em situações extremas como a de uma gravidez não desejada. Já que não é fácil impedi-los de experimentarem os prazeres da vida, ao menos que eles conheçam exactamente no que se estão a meter..
Bem, não vos maço mais....não se esqueçam de ir votar no domigo.