A confirmação
Maio 17, 2019
tinha passado duas semanas inteiras com ansiedade em full-time, e a ter ataques de pânico como quem solta gás depois de enfardar cozido de grão, porque pronto.. não consigo evitar de fazer aquela pesquisazinha no google (eu tentei, juro que tentei!!), porque comecei logo a fazer projecções, e porque recebi a notícia que um familiar (da família alargada, mas não interessa) tinha falecido com aquilo que eu poderia ter..
mas por acaso uma conversa com a minha sis, dois dias antes, tinha-me metido as ideias no lugar, e feito acreditar que tal coisa não ia acontecer comigo.. era só um susto. ninguém na família (directa) alguma vez teve daquilo, eu não ia ser a primeira. que “não és assim tão especial”, dizia-me ela a brincar.
vai daí, foi com grande descontracção que naquela manhã entrei para o gabinete da médica de imagiologia, para me entregar os resultados da biópsia. ia convencida que ela ia apenas dizer-me para repetir a mamografia dali a uns tempos, para controlar a progressão do achado, ou coisa assim.
da breve conversa que tive com ela, apenas consigo recordar,
"...é pequenino, mas é maligno e tem que sair rapidamente"
a alma esbardalhou-se-me aos pés...
a realização de que a minha vida tem um prazo de validade atingiu-me como se fosse um relâmpago, e o meu instinto de auto-preservação mandou um coice imediato. o choque da descarga de adrenalina fez-me doer o corpo todo, e perdi-lhe o controlo. o coração disparou, o estômago torceu-se todo, comecei a ter dificuldade em respirar, a suar e a tremer ao mesmo tempo, e a ter vertigens. não conseguia registar o que me estavam a dizer, o som estava distante e distorcido, e a visão turva e escurecida. sentia-me numa espécie de transe.
apesar de atordoada, consegui manter a compostura (nem sei como). perguntei à médica o que se seguia (sabia lá.. o mais importante não pesquiso eu na net XP). ela começou a falar mas eu não estava a conseguir apanhar nada, e deve-se ter apercebido disso, porque pegou em mim e levou-me uns metros à frente, até à porta de uma pequena sala onde eu já tinha passado tantas vezes e nunca tinha reparado. e disse-me, "quando a s. chegar, ela trata-lhe de tudo!"
naquele compasso de espera, tava a fazer os possíveis para me manter controlada, e não ter mais um ataque de pânico, tipo daqueles que dois dias antes me fez ir a correr às urgências. um dos meus piores pesadelos estava a materializar-se. sempre achei que não era uma questão de "se", mas sim, "quando"... mas honestamente, jamais esperava que fosse TÃO cedo. lá prós 50, talvez.. nunca a meio dos 38!!! W.T.F.
e não é que eu não estivesse preparada para aquele cenário.. eu estava preparada para aquele cenário desde o momento que a médica pediu-me para repetir a mamografia. simplesmente não existe preparação psicológica possível para digerir aquelas palavras com ligeireza.
o meu lado racional tentava meter ordem no barraco, "devias mazera tar a dar pulos de contente, que'ssa merda foi apanhada a tempo!! não é para isso que fazes exames de rotina??". mas o emocional tava-se bem a cagar, "interessa lá se é pequeno, se é grande. o que interessa é que está. cá!!" nunca tinha sentido uma bipolaridade tão intensa dentro da minha cabeça. parecia duas pessoas completamente diferentes, aos berros e safanões uma com a outra.
BI-RADS 6... parabéns, alcançaste o nível máximo!