para compensar o dia anterior, este estava a transbordar. quis descer o douro internacional, e continuar uma tarefa muito interessante que ficou por terminar na outra volta, miradouros. tinha uma lista com seis que queria muito visitar. por azar, foi também o pior dos dias que apanhamos, com chuva, frio, e vento forte. PQP!!
vou reformular, o dia estava verdadeiramente merdoso...
acordamos para um dia cinzentão, bem foleiro. nada fixe quando o objectivo é passear, e mirar desfiladeiros com centenas de metros de altura.
descemos à cozinha para preparar o pequeno-almoço, que só não correu melhor porque estas almas não sabem operar máquinas de café domésticas, e não tinham todas as ferramentas a que estão habitadas para preparar comida, e perdeu-se tempo precioso com os improvisos. enfim, lá se fez, e terminado o pequeno-almoço, subimos para ir arrumar a tralha e metemo-nos a caminho, que se fazia tarde.
estavam previstos seis miradouros. mas como estávamos em picote, mesmo à entrada do caminho que vai dar ao miradouro da fraga do puio, e a meia dúzia de passos de lá, aproveitamos para mirá-lo. o anfitrião da casa tinha-nos dito que aquilo tinha ardido tudo, e que não estava muito bonito de se ver. de facto, até a plataforma em madeira do miradouro ardeu, e estava tudo queimado quase até à água. acho que só não pareceu pior porque o dia estava cinzento, a condizer com a paisagem :(
picote tinha ainda mais casas recuperadas que há dois anos, está a ficar um sitio *muito* giro.
dali demos inicio à aventura do dia, seguindo a todo o vapor para nordeste, até aldeia nova / aldinuoba, ver as vistas a partir do miradouro de são joão das arribas.
imponente, para descrevê-lo numa palavra só. se não estou em erro, foi o mais alto dos miradouros que visitamos naquele dia. ali o douro corre numa estreita garganta, de paredes escarpadas ásperas e contornos muito acidentados, e a vista é incrível tanto a montante como a jusante. acabamos por nos demorar, que aquele sitio é de cortar a respiração, e ficamos sem forças para sair dali :D
de seguida fomos até miranda do douro, onde também passamos mais tempo do que aquilo que estava nos planos. não há nada a fazer, que as vistas ali também são impressionantes.
e ainda hoje tenho sonhos húmidos com um palmier coberto com chocolate que comi na pastelaria mirandesa, onde também tínhamos lanchado há dois anos hi hi hi
mais abaixo no mapa, passamos pelo miradouro da freixiosa. nesta altura o vento não estava a facilitar muito a vida, e aquele miradouro não é para fracos do coração lol aqui o douro corre mais à larga, e a paisagem não é tão acidentada, mas não deixa de ser brutal.
seguia-se o miradouro de picões. este era o mais desafiante por causa do caminho até lá. tinha chovido a manhã toda, e a estrada de terra batida estava encharcada, e cheia de depressões profundas causadas por veículos pesados. eu tentei, a sério que tentei. mesmo a arriscar atascar o cascas na lama.
por acaso não me estava nada a apetecer ficar com o carro atascado ali, já vinha há umas boas dezenas de metros com o coração nas goelas por causa disso. evitei vários buracos e poças de água como se fossem minas terrestres, em que uma manobra mal feita e tinha que ir à procura dum velhote com um tractor para me tirar o carro dali pra fora... atirei a toalha ao chão quando aquilo começou a deixar de ser um estradão e transformou-se num rio, e eu falei e disse "nope nope nope.. puta que pariu, caguei!" e não andei nem mais um metro.
e agora, voltar para trás? HA HA HA HA!
o caminho era estreito e murado, só cabia um carro. até conseguirmos inverter a marcha em porto seguro foram uns metros valentes de marcha-àtrás, com uma precisão cirúrgica para o carro não ficar encalhado. isto é material para me dar ataques de pânico instantâneos... quando aquela provação terminou, podia ter deixado o carro estacionado na aberta, e ter percorrido a pé as poucas centenas de metros que faltavam até ao miradouro.. mas o estado do caminho, e a chuva a ameaçar cair, e o tempo precioso que perdemos a não cometer nenhum fuck up com o nosso estimado automóvel, desencorajaram-me de perder mais tempo ali, e quis voltar à segurança do asfalto.
anyway, foi a maior aventura do dia lol
porque já se estava a fazer tarde, também o miradouro do castro castelo dos mouros também ficou para uma próxima, com muita pena minha.
seguiu-se o miradouro do carrascalinho, já sob de uma tarde verdadeiramente desagradável. o sitio é lindíssimo, a vista é desafogada, e as aves de grande porte pairam ali preguiçosamente. interessante que parecem imunes à chuva e ao vento.
por fim, e já quase ao cair da noite, ainda consegui levar-nos ao miradouro do penedo durão. foi o miradouro mais humanizado que visitamos. o acesso é impecável, tem um parque de estacionamento enorme, e montes de espaço para merendas. e tem uma paisagem magnífica, de perder a vista.
na volta anterior, estive parada lá em baixo a contemplar a vista, e a olhar cá para cima, a imaginar como seria fixe subir aquele penhasco, pouco antes de atravessar a barragem que se vê dali, saucelle, para explorar o douro internacional do lado espanhol. diria que é naquele ponto que o douro começa a amansar, e segue um percurso mais calminho até à foz. e é também ali a recta final em que aquele magnifico rio serve de fronteira entre portugal e espanha.
a descoberta do dia é que é possível descer o douro internacional e visitar uma série de miradouros em apenas um dia. basta começar cedo. preferencialmente com colaboração da meteorologia.. fiquei absolutamente fodida pelo falhanço dos dois miradouros, e pelo tempo horroroso que não me deixou desfrutar melhor os que consegui alcançar.. não ha milagres, acontecem sempre falhas nos planos, por melhor que sejam as intenções e a nossa determinação.
dali fomos a todo o vapor para torre de moncorvo, jantar na taberna no carró, restaurante que nos tinha sido altamente recomendado. não havia menu, era sentar e esperar que a comida começasse a aterrar na mesa. e foi tanta a comida, que nós, que chegamos lá mortinhos de fome, às tantas já estávamos os dois a entrar em pânico muhahaha
começou por pão e azeitonas, uma tábua de queijo curado e enchidos, depois uma alheira de mirandela assada nas brasas, depois uma omelete de espargos, depois cogumelos recheados, e terminou com uma bruta posta mirandesa, acompanhada por arroz de grão e salada de azedas. minha nossa senhora da assunção, que puta da barrigada. não sobrou espaço para sobremesas, por mais delicioso que fosse o aspecto delas... saímos de lá a rebolar.
o último salto do dia seria prá lá de vila nova de foz côa, até à casa do rio. havia duas formas de lá chegar: 30km por curvas, ou 35km por estrada direitinha, a duração da viagem era idêntica. a parte chata foi que confiei no routing dos mapas do google, e não é que o cabrão mandou-me ir pela estrada das curvas? cá pra mim, devem ter lá no meu perfil que eu gosto de estradas "cénicas"... só pode!! e acredito que aquela estrada até seja muito agradável de conduzir, pela vista... mas de noite não se vê a ponta dum chouriço.. ainda por cima, curvas era a última coisa que me estava a apetecer depois de uma refeição daquelas, humpf!
chegar até à casa do rio também foi um desafio "interessante". uma sucessão de curvas apertadas, com um declive assustador, e escuridão total. o meu instinto dizia-me que era melhor segurar bem o carro, que o douro corria lá em baixo.. a que altura e distância, era uma incógnita. depois de dois pavorosos km, chegávamos finalmente à casa.
primeira impressão da coisa.. tinha sido mais esperta se tivesse cagado nos miradouros, e fosse directa de picote para aquele sítio. zomg... chegar lá às nove da noite foi um crime!
a melhor descrição que consigo fazer do alojamento é, a casa de campo de alguém com muito bom gosto. e papel. não se pouparam nos luxos. a decoração da sala de estar era de um tremendo bom gosto, numa combinação harmoniosa entre elementos de design moderno e rústico. os tons quentes da fraca iluminação envolviam-se com música chill out, a finalizar o ambiente perfeito. tinha um conforto intimista encantador.
o quarto, dos mais bonitos, confortáveis, e acolhedores onde já dormi. amplo, luminoso, forrado a madeira pintada de branco com um ar de casa de praia, ao fundo uma pequena sala de estar com sofás em pele e uma lareira suspensa, que não foi preciso acender porque o ar condicionado tomava conta do assunto.. e a cama.. uma nuvem autêntica. e tudo salpicado com pequenos arranjos florais silvestres frescos. acho que aquele quarto anda ali taco a taco com a casa da árvore, que só ganha porque é a casa da árvore lol
só podia ser a recompensa por aquele dia frustrante. quando reservei aquela maravilha, nunca imaginei o que me esperava, as fotos não lhe fazem justiça.
os anfitriões, de uma simpatia desconcertante. acabamos por ficar até perto da meia noite na sala, entre conversas, chás, vinhos do porto e bolos caseiros.
again, como já vinha a ser trend, e numa rara ocasião (segundo nos foi dito), tivemos a(quele sonho de) casa só para nós :D
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